Na comunidade menonita, todos os membros da família são envolvidos na tarefa dos cultivos agrícolas, da casa, enfim o tempo deve ocupado com o trabalho e nas orações. Fora isso, só o momento de dormir e despertar para um novo diaVivemos uma época de plena modernidade, avanços tecnológicos ousados em várias áreas, globalização econômica em ebulição, universalização da cultura e do misticismo, liberalidade sexual, tentativa dos direitos individuais e às portas do período glacial, este profetizado por Tim Maia antes de sua morte repentina. Apesar de tudo isso, a humanidade não consegue encontrar razões e compreensões para as coisas que mais a inquieta internamente em sua alma ou espírito, como por exemplos: a morte, o por quê de ter nascido e de estar vivo, se há ou não deus, como entender o universo.
Há mais ainda: como ter paz neste mundo de tanta violência? Como conciliar todas estas conquistas com paz de espírito, quando há muita desigualdade? Diante de tantos avanços tecnológicos, convivemos com turbilhão de religiões e igrejas oferecendo todos os tipos de credos para alcançarmos a felicidade aqui, agora. Mas a decepção passa a ser maior ainda quando se descobre que por trás deste misticismo todo há muito de inverdades praticadas por líderes religiosos que visam apenas abocanhar um pouco (ou muito) dos bens materiais que a pessoa infeliz espiritualmente possui para tornar feliz sua vida pessoal e seu redor.
Raros são os exemplos de personalidades que fizeram de sua fé espiritual algo de concreto aqui na terra diante de uma humanidade afoita na busca da felicidade a qualquer custo. Deste seleto grupo dá para citar Jesus Cristo, Budha, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Krishna, Confúcio e outros.
Como resistir ao mundo que aí está, diante dos nossos olhos, mesmo tendo muito dinheiro a seu dispor? Isso é possível no mundo de hoje? Como ganhar tanto dinheiro e desprezar as benesses que ele oferece? Como ganhar um montão de dinheiro com o exaustivo trabalho e não se atentar ao mundo consumista, deixando de freqüentar Manhatan, as praças e cafés elegantes de Paris e os points da moda no planeta?
Mais ainda. Como possuir tanto dinheiro em banco e ganhá-lo sem tecnologia alguma, não sair do lugar onde vive, resistir às tentações do mundo, fazer jejum e ainda ficar feliz por ter conseguido superar estas proezas? Parece algo impossível, não é mesmo?
Este tipo de realidade não é utopia, ficção. É pura verdade e existe aqui no Brasil e em vários cantos do planeta. Trata-se da comunidade Menonita, ramo moderado dos anabatistas, cuja origem se deu em Zurique, na Suíça, no século XVI pelo ex-padre católico holandês Menon Symons (1496-1561), autor de diversos livros teológicos. Adeptos da não-violência, os menonitas não portam armas em hipótese alguma, não prestam serviço militar, nem ostentam luxo algum, consideram a escravidão uma realidade diabólica, são adeptos da prática do segundo batismo na fase adulta.
São exímios agricultores e vivem em grandes áreas rurais, distantes da vida urbana, recusando-se a participar de qualquer atividade social fora de suas comunidades. Para eles, é essencial a prática de uma vida cristã comunitária com base nos primeiros cristãos, despojando-se de qualquer regalia inventada pelo homem que leve à soberba, orgulho, inveja, ira, gula e espírito contrário do que é ensinado nos evangelhos bíblicos.
Proprietários de milhões de hectares de terras espalhadas por vários países do mundo, os menonitas produzem milhões de toneladas de grãos de soja, milho, arroz, feijão e outras culturas, assim como o leite. Fazem tudo sem utilizar-se de tecnologia alguma. Todo o trabalho é artesanal, braçal mesmo, como se ainda vivessem na idade média. Apenas se utilizam de pequenos tratores para arar e semear. Por causa desta economia, tudo o que ganham aplicam na aquisição de mais terras para abrir outras comunidades. Segundo os maiores especialistas em economia do mundo, os menonitas são detentores de uma das maiores fortunas do planeta, as quais se encontram depositadas em vários bancos.
Toda a riqueza das comunidades é repartida por igual para todos os membros, sem distinção de funções, já que não há hierarquias entre eles. Os maiores respeitos são dirigidos ao pastor e aos anciões de cada comunidade. Como não gastam o que ganham na compra de vaidades, o dinheiro é mantido em contas ou aplicado em programas de rendimentos fixos ou a prazo. Suas casas são bem feitas, amplas, dispondo de decoração simples, sem imagens, requintes e modernidades, por exemplo, não há energia elétrica. Mas há muito conforto e silêncio, abafados por orações em grupos, as mulheres conversando ou crianças brincando. Entre eles não há violência e roubo, pois tudo o que possuem, todos da comunidade tem. Em suas casas não há coisas valiosas que atraiam a atenção de outras pessoas de fora da comunidade, como televisão, jóias ou dinheiro.
As mulheres, apesar de vestirem muito colorido, usam roupas sóbrias, sem decotes. Os homens apenas vestem ‘jardineiras’ indigo blue, tanto para o trabalho como para as ocasiões de culto, reuniões sociais e quando vão à cidade. Apesar disso, a alimentação é farta, não faltando nada do que comer, sendo tudo produzido na própria comunidade. A educação inicial é toda feita nas propriedades rurais pelos próprios pais ou educadores de confiança. Algumas comunidades aceitam que os adolescentes saiam para estudar em escolas públicas, mas sempre sob a supervisão de alguém especialmente escolhido.
No Brasil, os menonitas chegaram em 1930, instalando-se no Rio Grande do Sul, onde fundaram a colônia Wittmarsun (nome da cidade de origem de Menon Symons). Duas décadas depois, em 1954, chegaram os primeiros missionários, provenientes dos EUA, e dez anos depois fundaram a primeira igreja com o nome de Associação Evangélica Menonita. Hoje, há comunidades menonitas espalhadas por diversos estados brasileiros como: Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Brasília.
Na América Latina, os menonitas estão presentes em todos os países, principalmente nos EUA de onde partiram, vindos originalmente da Rússia, Suíça, Polônia, Alemanha. Devido a tradição germânica, os membros da comunidade procuram preservar o dialeto alemão arcaico: o plattdeutsch. Dos 17 aos 20 anos, os jovens fazem a confissão de fé, professando a crença na santíssima trindade: Deus (Pai), Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Além disso, tem-se como costume primordial: viver em paz com o Senhor Deus, por meio de seu dileto filho Jesus Cristo e condenam o batismo de crianças. Tem na Bíblia, o único livro de leitura principal, acompanhado da publicação ‘O espelho dos mártires’, de 1660. Além da prática rotineira dos cultos, celebra-se as datas de 25 de maio e 24 de julho como de Ascensão de Cristo e de Pentecostes.
Para quem tem muito dinheiro e não deseja deixar o capitalismo de lado, mas se ressente da falta de paz interior, eis uma boa oportunidade de se integrar a uma comunidade em que os valores humanos e cristãos são levados seriamente ao pé da letra. Isto serve até mesmo como modelo de administração para muitos países em evolução, como o nosso Brasil. Os exemplos dos menonitas servem muito para serem refletidos.
* * *
PENSAMENTO (MAGISTRAL)
“O desemprego não se deve a conspirações, mas a políticas errôneas de governos incapazes”
Mário Vargas Llosa, escritor peruano
DEDO NA FERIDA
Afinal de contas plantar transgênicos no Brasil é contravenção ou não? Se não for, é melhor avisar os produtores para adquirirem sementes geneticamente modificadas de forma legal da Monsanto, sem usar as antigas sementes contrabandeadas da Argentina.